Pompéia, aqui e no cinema



   O filme Pompéia - Um império à sombra de um poder maior estreia este mês nos cinemas, conta a história épica de Milo, um escravo que se tornou um gladiador e que se encontra em uma corrida contra o tempo. Alguns dias antes da lendária erupção do vulcão Vesúvio, Milo está preso dentro de um navio, em direção à Nápoles. Ele vai fazer de tudo para escapar e salvar a mulher que ama, Cassia (a bela filha de um comerciante rico que foi prometida a um corrupto senador romano), além de ajudar o seu melhor amigo, um gladiador que está em dificuldades no interior do Coliseu. Tudo isso em meio à destruição da cidade de Pompéia causada pela erupção do Monte Vesúvio.
Antiga pintura mostrando a erupção do Vesúvio
   Corria o ano 79 d.C. na Itália. O sol radiante que nascia no dia 24 de agosto prenunciava mais um belo dia de verão na maravilhosa baía de Nápoles. Muito embora os nobres e os ricos comerciantes ainda dormissem, os primeiros raios iluminavam o movimento matutino de Herculano. A cidade acordava preguiçosamente, uma pérola encravada no meio de belos jardins, pomares e plantações verdejantes que se perdiam nas faldas do Vesúvio. Em Pompéia, localizada à direita do Vesúvio, muitas pessoas dirigiam-se para a Via dell' Abbondanza, o novo e provisório centro de compras. A cidade era um grande canteiro de obras, ainda estavam trabalhando na reconstrução depois do terremoto que há 14 anos atingira toda a baía de Nápoles, sendo Pompéia a mais atingida. Ninguém, nas duas cidades, dava muita importância a uma montanha ali ao lado, esquecendo que aquela elevação em particular tinha uma cratera no meio.
   Erguendo-se imponente sobre as duas cidades, o vulcão Vesúvio estava inativo há séculos. De repente, naquela radiosa manhã de 24 de agosto do ano 79 d.C., o Vesúvio acordou. Com uma tremenda explosão, entrou em erupção. Durante as 11 horas seguintes a coluna de fumaça, cinza e lapilli atingiu 20 quilômetros de altura, escurecendo todo o céu. O dia virou noite. A primeira erupção atingiu Herculano, cidade vizinha a Pompéia, matando todos que se encontravam na cidade. O vento soprava para o sudeste e Pompéia recebeu uma chuva de pedra-pomes, cinzas e fragmentos de lavas, cuja espessura crescia 15 centímetros por hora. Por volta de meia noite as cinzas e os gases jogados na estratosfera começaram a cair novamente nas faldas do vulcão, formando nuvens incandescentes, com avalanches letais caminhando a uma velocidade de 300 quilômetros por hora e atingindo a temperatura de centenas de graus Celsius. Começou a chover às 5 horas da manhã de 25 de agosto. Pouco depois das seis horas outra nuvem incandescente sufocou Pompéia. Nesse meio tempo a chuva formou um rio de lama, caminhando em direção a Herculano, enterrando toda a área. O fato é que, primeiro Herculano, depois Pompéia, num piscar de olhos sumiram do mapa.
As ruínas do Templo de Apolo em Pompéia
   Naquela época, Pompéia tinha 25.000 habitantes, muitos deles prósperos cidadãos: fazendeiros, banqueiros, capitães de navios e comerciantes. A cidade ostentava cerca de 200 bares, pousadas e restaurantes, tinha 33 padarias, e Thermoplia, as "lojas de fast-food" que acondicionavam os alimentos quentes nos grandes vasos de terracota. Moradias de dois andares eram ricamente decoradas. Algumas tinham água encanada e banheiras de hidromassagem. Pompéia abrigou 41 locais de prostituição e um bordel público no meio da cidade, uma estrutura de dois andares.

A grande catástrofe
   Em 79 d.C. a cidade era um grande canteiro de obras em função do primeiro cataclisma que atingiu Pompéia: em 62 d.C. um grande terremoto atingiu todas as cidades da baía de Nápoles, principalmente Pompéia, destruindo até o Capitólio que ficava no meio do Forum. O trabalho de reconstrução seguia lentamente. Dezessete anos depois do terremoto, no momento da erupção do Vesúvio, o templo de Júpiter e os edifícios em volta do Forum ainda não haviam sido terminados. Importantes serviços como o "castellum aquae", sistema de abastecimento de água da cidade, ainda não havia sido reparado. O comércio e o centro de compras foram deslocados na direção da Via dell' Abbondanza, o pequeno Templo de Isis foi reconstruído por iniciativa privada, as casas de toda a península foram substituídas por suntuosos balneários centrais. Lugares que haviam sido outrora ricos e magníficos estavam agora abandonados e decadentes, enquanto novos edifícios surgiam, decorados com materiais esplêndidos.
   Foi durante aquele período de recuperação lenta que veio o golpe final: depois de séculos de inatividade, o Vesúvio voltou à vida novamente. Um excepcional relato da tragédia, que foi a mais ruinosa que atingiu o mundo no começo da nossa era, foi dado por uma testemunha ocular, Plínio o Jovem, em duas cartas dirigidas a Tacitus (grande literato e historiador romano do século II d.C.). Esta é a mais vívida descrição do terrível cataclismo que destruiu todo o lado leste do Golfo.
   Na manhã de 24 de agosto, uma longa coluna de fumaça cresceu da antiga bacia do Monte Soma (o cone do Vesúvio naquele tempo era menor do que hoje). Logo em seguida, por volta das dez horas, um enorme bloco de lava que tinha obstruído o cone do vulcão por milhares de anos explodiu, sendo jogado no ar em inúmeros fragmentos. Como a lava escorreu pela montanha, os maiores fragmentos caíram de novo na cratera, enquanto os menores se transformaram em pequenas pedras-pomes que, misturadas à fumaça venenosa, formaram uma grande nuvem que o vento levou cerca de cento e quarenta milhas ao sudoeste.
   A chuva de cinza caiu por quatro dias, sobre toda Pompéia. Terremotos continuados devastaram também as cidades de Nápoles, Nola e Sorrento, que não sofreram tanto com a chuva vulcânica. Herculano sofreu uma tremenda inundação de lama (material de rocha eruptiva acumulado nas beiras da cratera e arrastado pela imensa massa de água produzida por uma excepcional convulsão vulcânica) submergiu primeiro as vilas e depois a encantadora cidade debaixo de dez a vinte metros de espessa camada, preenchendo cada buraco e empurrando a linha da costa para duzentos metros mais adiante.
   Cerca de duzentas pessoas morreram imediatamente somente em Pompéia, e numerosas pessoas, além daquelas que ficaram para trás em vez de fugirem logo, morreram sufocados pela fumaça venenosa que caiu misturada com a chuva (Plínio, o Velho, foi uma delas).
   Titus Flavius Vespasianus, que havia sido eleito imperador, imediatamente providenciou provisões para os sobreviventes, formando uma comissão de ajuda à Campanha. As ruínas das casas que haviam sido abandonadas pelos seus proprietários foram usadas na reconstrução de casas daquelas cidades que ainda estavam razoavelmente intactas. Aos poucos, as cidades começaram a crescer novamente; muitos metros acima das antigas. Somente Pompéia não foi reconstruída no mesmo lugar.
   O Vesúvio entrou em erupção várias vezes na história, sendo que a erupção mais famosa foi a de 79. Seguiram-se outras em 472, em 512, em 1631, seis vezes no século XVIII, oito vezes no século XIX (com destaque para a de 1872), em 1906, em 1929 e em 1944. Não houve nenhuma erupção desde 1944. Na erupção de 79, o vulcão enviou cerca de 4 km³ de cinzas e rochas, tendo estas coberto as cidades de Pompéia e Herculano. Neste ano as erupções foram tão grandes que toda a Europa do sul esteve coberta por cinzas; em 472 e em 1631, as cinzas de Vesúvio caíram em Constantinopla (agora chamada Istambul), a mais de 1609 km de distância. É o único vulcão do continente europeu que há quase 19 séculos manifesta atividade regular.
   Hoje, cerca de 3,5 milhões de pessoas vivem na sombra do Vesúvio, que continua a ser o único vulcão ativo na Europa continental.


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